Há dias a sociedade brasileira acompanha os detalhes do caso Isabella. A morte da menina jogada de um edifício em São Paulo e o possível envolvimento do pai e da madrasta provocou não só comoção popular, mas também curiosidade e especulação em torno do caso. A começar pela mídia que transformou a tragédia em uma verdadeira novela, passando pela promotoria, pelos agentes de polícia e pela própria população, todos têm tratado a morte da menina como um verdadeiro espetáculo.
Nesse Show, a intimidade das pessoas, tanto dos acusados e seus parentes como da mãe da menina e dos vizinhos do prédio, tem sido constantemente violada sob pretexto do direito à informação e da liberdade de imprensa. Mas há limites éticos e jurídicos para o direito de informar. Se a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia, a preservação da intimidade e o respeito ao princípio constitucional da presunção de inocência também são fundamentais para a sobrevivência do Estado de Direito.
Não tenho procuração dos acusados para defendê-los nem tão pouco deixo de me comover com o caso e partilhar da dor da mãe da menina, mas não posso aceitar que a tragédia alheia seja motivo para a violação da Constituição Federal. Também não posso admitir que as autoridades se arvorem no direito de debater publicamente o caso ao ponto de adiantar conteúdo de laudos periciais que sequer haviam sido anexados aos autos do Inquérito Policial. É deprimente saber que as pessoas viajam horas para visitar o local do crime como se ali fosse um ponto turístico. Pior ainda é ver a população tentando invadir a casa dos indiciados para fazer "justiça" com as próprias mãos, como se isso também não fosse crime. Olhando assim, até parece que a sociedade brasileira tem o hábito de sair às ruas para exigir justiça sempre que se sente prejudicada. Agora, já há até enquete na Internet para a população opinar (http://bomdiabrasil.globo.com/Jornalismo/BDBR/0,,MUU14269-3687,00.html).
Estou cansado desse caso, já sei qual vai ser o final da novela. Mas meu medo é que com todo esse sensacionalismo, e a julgar pelo oportunismo dos nossos políticos, alguém resolva convocar um plebiscito para decidir se o casal é culpado ou inocente. Deus nos proteja!
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